Este post tem como objetivo apresentar reflexões acerca dos
assuntos discutidos na disciplina Fundamentos da Comunicação e Medicação da
Informação ministrada pela profa. Sofia, e o seu potencial de contribuição no
projeto de tese. Em cada parágrafo faço
considerações a respeito de como o assunto tratado tem intersecção com o meu
projeto de tese. Para contextualizar, o título do meu projeto de tese é: “DESENVOLVIMENTO
DA COMPETÊNCIA INFORMACIONAL AUXILIADO PELA COOPERAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO LÓGICA NUM
CONTEXTO DE AMBIENTES VIRTUAIS DE SIMULAÇÃO”.
Atualmente o trabalho
cooperativo é considerado um elemento fundamental para o desenvolvimento do
conhecimento científico por muitos pesquisadores, entre eles, vários da Ciência
da Informação, tais como POBLACIÓN, LE COADIC, ROBREDO, FONCECA, DUQUE, SARACEVIC
e VALENTIM, devidamente referenciados no meu projeto de tese. Vilan Filho
(2010) observa que esta consciência sobre a importância do trabalho cooperativo
é representada na década de 70 por Ziman (1978, apud VILAN FILHO, 2010, p. 19) quando afirma que o “conhecimento
científico é o produto de um empreendimento coletivo humano ao qual cientistas
fazem contribuições individuais que são depuradas e estendidas à crítica mútua
e cooperação intelectual” e por Kuhn (1977, apud VILAN FILHO, 2010, p. 19) quando fala que "o
conhecimento científico é produto de um grupo e nem sua eficácia nem a maneira
pela qual se desenvolve serão entendidos sem nos referenciarmos à natureza
específica dos grupos que a produzem."
Ou ainda, no início do século XVII o filósofo Inglês Francis Bacon (apud
MAGEE, 1998) disseminava a ideia de que
o conhecimento científico é construído mais eficientemente por várias pessoas
trabalhando em comunicação umas com as
outras do que com indivíduos trabalhando sozinhos, e, desta forma, fazendo
surgir as sociedades científicas. Brandão e Duque (2011) argumentam que a
colaboração entre cientistas ainda tem sido enriquecida de possibilidades
devido o rompimento das barreiras de tempo e espaço nos processos de interação
mediados pela tecnologia. Como a cooperação é elemento essencial no meu
projeto, esta discussão serve para corroborar ainda mais a importância de se
trabalhar sobre esta vertente de forma a contribuir com a sua aplicação para o
desenvolvimento da competência informacional.
A comunicação
científica, para Meadows (1999, apud VILAN FILHO, 2010, p. 24), encontra-se no coração da
ciência constituindo-se parte essencial do processo de investigação científica,
sendo tão vital quanto a própria pesquisa. Vilan Filho (2010) chama atenção
para o fato de que a comunicação científica não tem acompanhado a evolução das
tecnologias de comunicação (blogs, microblogs, redes sociais). Isto se torna
mais evidente em áreas de fronteira do conhecimento onde a rapidez na
disseminação de novas descobertas é necessária para atualização da base de
conhecimento. A publicação científica por meios eletrônicos é determinante para
se conseguir esta agilidade, apesar de que, Vilan Filho alerta que a validade
destas só é aceita pela comunidade científica quando os trabalhos são avaliados
pelos seus pares. Ainda sobre a
agilidade, Brandão e Duque (2011) também fazem indicações de que o ambiente
digital tem estimulado a interatividade cada vez maior e em menor tempo, entre
os produtores e os consumidores de informação.
Além disto, eles destacam que o saber científico devem seguir tendências
contemporâneas, coetâneas e coesas. A comunicação científica depende da
produção científica, e Gasque (2012) identifica, através da indicação de
estudos realizados, três grandes problemas na
formação de pesquisadores desde o ensino fundamental até o ensino médio:
(1) a inexistência de orientação para buscar e usar a informação, (2) formação
inadequada dos professores para o ensino da pesquisa, (3) visão simplista
da pesquisa, identificada
como mera cópia, síntese ou repasse de conteúdos, sem a
reflexão crítica sobre a sua real importância na prática docente. Também na
linha de identifica posturas e competências, Driver e outros (1994) sinalizam
comportamentos necessários por parte dos alunos para a criação de uma
perspectiva crítica sobre a cultura científica: eles deverão estar
conscientes da limitação e dos objetivos
variados do conhecimento científico e de como suas asserções são baseadas. Neste
contexto, o desenvolvimento das competências informacionais indicado no meu
projeto, colabora com a produção científica de qualidade que consequentemente irá
requerer uma comunicação científica sintonizada com a mesma qualidade.
De uma maneira geral a maturidade
de uma área de conhecimento se mede por intermédio de 3 pilares a saber
(MUELLER, CAMPELLO, DIAS, 1996 apud VILAN FILHO, 2010, p. 27): (1) literatura,
(2) associações ou sociedade de pesquisa, (3) cursos regulares de formação
profissional e de pesquisadores. Segundo Vilan Filho, alguns autores a
cooperação como o quarto pilar de maturidade de uma área. Meu projeto faz a intersecção no terceiro e
quarto pilares, pois trabalha no desenvolvimento de competências informacionais
na formação de profissionais da informação e, usando-se, da cooperação como
elemento para alimentar o processo.
Diferentemente da alfabetização que corresponde ao processo
de aquisição de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever,
o letramento, segundo Gasque (2012),
refere-se ao domínio efetivo e competente da escrita no cotidiano para atingir
diferentes objetivos. Gasque ainda
alerta que letramento informacional
(originário de information literacy, termo cunhado por Paul Zurkowski em 1974)
não é simplesmente a junção de letramento com informação, mas é um conceito
complexo e abrangente que de uma maneira geral significa o engajamento do
sujeito no processo de aprendizagem, a fim de desenvolver competências e
habilidades necessárias para buscar e usar a informação de modo eficiente e
eficaz. De forma mais detalhada, o letramento informacional tem como finalidade
a adaptação e a socialização dos indivíduos na sociedade da aprendizagem,
através das seguintes capacidades desenvolvidas: (1) determinar a extensão das
informações necessárias; (2) acessar a
informação de forma efetiva e eficientemente; (3) avaliar criticamente a
informação e suas fontes; (4)
incorporar a nova informação ao conhecimento prévio; (5) usar a
informação de forma
efetiva para atingir
objetivos específicos; (6) compreender os aspectos econômico, legal e
social do uso da informação, bem como acessá-la e usá-la ética e legalmente. Outro conceito, identificado como alfabetização informacional, que corresponde a primeira
etapa do letramento informacional, refere-se
à compreensão básica
dos conceitos relacionados à informação e aos seus suportes
tecnológicos, chamado de ‘código de
informação’. O letramento informacional
corresponde ao conceito de competência informacional discutido no meu projeto, onde
o seu desenvolvimento é o foco principal da pesquisa.
Gasque (2012) alerta para uma grande deficiência do letramento informacional no Brasil, destacando que
ele “[...] não tem sido foco da educação, em especial da educação básica.
Somente na graduação, com a exigência dos trabalhos de conclusão de curso
(TCCs), os aprendizes têm a possibilidade de desenvolver atitudes científicas,
adquirindo, assim, as competências mínimas para produzir conhecimento
científico”. Gasque também aponta
pesquisas que identificam dificuldades
no processo de pesquisa: “[...] acessar adequadamente
as informações relevantes
e pertinentes em fontes diversificadas;
a falta de conhecimento sobre a ética na investigação, culminando com grande número
de trabalhos plagiados, bem como as dificuldades em organizar e usar a
informação para construir conhecimento. As pesquisas indicam a necessidade de
educar os indivíduos para saber buscar e usar a informação de maneira efetiva”.
No meu projeto de tese, faço a devida referência a autores que também alertam
para deficiências encontradas no desenvolvimento da competência informacional
de uma forma generalizada, entre eles: o INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY
ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, LE COADIC, VARELA e BELUZZO. Neste contexto apresentado, a deficiência
identificada no letramento informacional constitui-se, no meu projeto de tese,
a grande motivação e justificativa da pesquisa.
Gasque ainda destaca que há fortes evidências sobre a importância do letramento informacional,
pois “[...] é crucial na sociedade atual, submetida a rápidas e profundas
transformações em virtude da grande produção de conhecimentos científicos e
tecnológicos”. Ele é um processo de
aprendizagem que favorece o aprender a aprender, pois possui “[...] conceitos, procedimentos e
atitudes que permitem ao indivíduo identificar a necessidade de informação e
delimitá-la, buscar e selecionar informação em vários canais e fontes de
informação, bem como estruturar e comunicar a informação, considerando os seus
aspectos éticos, econômicos e sociais”. Ser
letrado informacionalmente é saber circular pelo mundo com familiaridade,
buscar e selecionar informação para produzir conhecimento, ter capacidade de investigar
problemas e propor soluções. Processo a ser desenvolvido desde a educação
básica até a superior. Gasque indica a
existência de pesquisas realizadas no âmbito escolar que evidenciam os
benefícios derivados do desenvolvimento do letramento informacional. Gomes
(2008) alerta para o fato de que as competências e expectativas dos leitores
interferem na interpretação dos textos, pois cada leitor carrega consigo
conhecimentos prévios e lacunas que se misturarão às particularidades do
contexto em que se efetua a leitura, ao texto e ao próprio formato de registro.
Gasque (2012) conclui de sua pesquisa que as experiências e
sentimentos com pesquisa ao longo da vida escolar, ou seja, da educação básica
até a educação superior, tem
influência direta no letramento informacional
de um aluno da pós-graduação. Este
reflexo também é proveniente da “[...] cultura acadêmica, atitude dos
professores em relação à busca e ao uso da informação, concepção de
ensino-aprendizagem, infraestrutura e custos de informação, bem como pela
consciência do grau de competência informacional do sujeito”. Além disto, ela
assinala benefícios proporcionados por trabalhos de iniciação científica
realizados na graduação, diferentemente das experiências superficiais
proporcionadas pela educação básica. Por
outro lado, critica que as iniciações científicas são destinadas aos melhores
alunos e não a todos, limitando a oportunidade de desenvolvimento das
competências usadas no processo de pesquisa.
No contexto de minha pesquisa, a comunicação científica necessita de um
grupo de competências informacionais, identificadas por Gasque (2012) em sua
pesquisa, tais como: (a) competência de busca de informação, isto é, achar
informação relevante e pertinente, (b) competência de uso da informação, por
exemplo, lidar com questões ética e legais, (c) competência para organizar a
informação, pois depois haverá necessidade de recuperá-la novamente de forma
classificada com as suas anotações, fichamentos etc.
Miranda (2004) acha que a denominação de profissional da informação é algo
genérico, pois possibilita todos os profissionais que atuam na Ciência da
Informação sejam classificados como tal, inclusive jornalistas e
repórteres. Mas, ele conceitua dizendo
que é o profissional que tem como objetivo o
acesso à informação ou a facilitação deste acesso. Faria (2005) lembra
que não existe consenso em relação ao conceito de profissional da informação,
mas resgata, em seu artigo, as ocupações da Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO) de 2003, que são consideradas como profissionais da informação.
Além disto, da mesma CBO, ela também cita as competências exigidas/requeridas
pelas organizações para o profissional da informação: (a) manter-se atualizado/disposição
para mudanças, (b) trabalhar em equipe e em rede/afetividade; (c) possuir conhecimento
de idiomas/comunicação; (d) ter postura ética/liderança; (e) capacidade
empreendedora/realização; (f) raciocínio lógico/competências cognitivas; (g)
capacidade de concentração/atenção-priorização; (h) demonstrar proatividade/antecipar
ameaças. No contexto do meu projeto, o desenvolvimento da competência
informacional por intermédio da cooperação e da lógica argumentativa já irá
satisfazer duas das competências citadas pela CBO: (b) competências no trabalho em equipe e em
rede; e (f) competência no raciocínio lógico.
Segundo Akhras (2011) a inclusão
social é um tema que tem sido negligenciado pela ciência tradicional, e é
um problema multifacetado, multidisciplinar e complexo, isto é, as tecnologias
sociais não podem
ser criadas puramente em
laboratórios, mas “[...]
devem ser desenvolvidas por meio de
projetos mais abrangentes e contextualizados, situados em contextos sociais
reais que integram questões de avanço tecnológico com questões de
desenvolvimento humano, social, econômico e cultural”. Akhas conclui que existem cinco aspectos que
coexistem em qualquer sistema de inclusão social: (a) o contexto social; (b) o
estado de desenvolvimento social; (c) a atividade social; (d) o processo de
inclusão social; (e) os affordances para inclusão social, isto é, as relações
existentes entre o ambiente e o organismo. Meleane (2012), em sua tese, analisou
até que ponto o uso de TICs constitui um meio de inclusão e exclusão social nas
Instituições de Ensino Superior de Moçambique, e concluiu que há muito o que
fazer aumentar a inclusão e diminuir a exclusão: “[...] desenvolver estratégias
e planos consistentes; melhorar a qualidade de acesso e uso das TICs, a gestão
de infraestruturas e os recursos tecnológicos existentes; promover a
capacitação e o treinamento da comunidade acadêmica, como forma de aumentar a
inclusão social e digital e reduzir a exclusão social e a desigualdade social e
digital nas IES; e aumentar o desenvolvimento de pesquisas e de comunicação
científica, utilizando fontes
eletrônicas”. Este resultado, apesar do
contexto em outro país, pode ser absorvido aqui para o Brasil no mínimo para
suscitar reflexões acerca do tema. Na minha pesquisa, o trabalho com as
competências informacionais já caminha na direção natural do aumento da
inclusão social e da diminuição da exclusão social.
Ao longo deste post foram elencados nove pontos importantes
que fazem intersecção com o meu projeto de tese, são eles: (1) o trabalho
cooperativo, (2) a comunicação científica, (3) a maturidade de uma área de
conhecimento, (4) o letramento informacional, (5) a deficiência do letramento
informacional na sociedade, (6) a importância do letramento informacional, (7) o
letramento informacional na educação superior, (8) o profissional da informação,
(9) a inclusão social. Nas abordagens realizadas em cada um destes tópicos foi
apresentada uma possível intersecção do meu projeto de pesquisa. Sendo assim, o projeto se torna, desde então,
mais amadurecido e embasado com os assuntos pertinentes da disciplina Fundamentos
da Comunicação e Medicação da Informação.
Referências
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científico: uma ontologia. Inclusão Social. Brasília, v. 4, n. 2, p. 25-37,
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DRIVER,
Rosalind et al. Constructing scientific knowledge in the classroom. Educational
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FARIA,
Sueli. et al. Competências do profissional da informação: uma reflexão a
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GASQUE, Kelley C. G. D. Letramento informacional: pesquisa,
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GOMES, Henriete F. A mediação da informação, comunicação e
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Informação, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1,
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MAGEE, Brian. História da filosofia. São Paulo: Edições
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MIRANDA, Silvânia Vieira. Identificando competências
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MELEANE, Suzana O.T. Tecnologias de informação e comunicação
como meio de inclusão social em Moçambique: o caso do ensino superior. 2012.
Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação, Universidade de Brasília, Brasília.
VILAN FILHO, Jayme Leiro. Autoria Múltipla em Artigos de
Periódicos Científicos das Áreas de
Informação no Brasil. 2010. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) -
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília,
Brasília, 2010.