quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Reflexões e contribuições dos assuntos “Comunicação Científica”, “Letramento Informacional”, “Profissional da Informação” e “Inclusão Social” para o projeto de pesquisa


Este post tem como objetivo apresentar reflexões acerca dos assuntos discutidos na disciplina Fundamentos da Comunicação e Medicação da Informação ministrada pela profa. Sofia, e o seu potencial de contribuição no projeto de tese.  Em cada parágrafo faço considerações a respeito de como o assunto tratado tem intersecção com o meu projeto de tese. Para contextualizar, o título do meu projeto de tese é: “DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA INFORMACIONAL AUXILIADO PELA COOPERAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO LÓGICA NUM CONTEXTO DE AMBIENTES VIRTUAIS DE SIMULAÇÃO”.

Atualmente o trabalho cooperativo é considerado um elemento fundamental para o desenvolvimento do conhecimento científico por muitos pesquisadores, entre eles, vários da Ciência da Informação, tais como POBLACIÓN, LE COADIC, ROBREDO, FONCECA, DUQUE, SARACEVIC e VALENTIM, devidamente referenciados no meu projeto de tese. Vilan Filho (2010) observa que esta consciência sobre a importância do trabalho cooperativo é representada na década de 70 por Ziman (1978, apud VILAN FILHO,  2010, p. 19) quando afirma que o “conhecimento científico é o produto de um empreendimento coletivo humano ao qual cientistas fazem contribuições individuais que são depuradas e estendidas à crítica mútua e cooperação intelectual” e por Kuhn (1977, apud VILAN FILHO,  2010, p. 19) quando fala que "o conhecimento científico é produto de um grupo e nem sua eficácia nem a maneira pela qual se desenvolve serão entendidos sem nos referenciarmos à natureza específica dos grupos que a produzem."  Ou ainda, no início do século XVII o filósofo Inglês Francis Bacon (apud MAGEE,  1998) disseminava a ideia de que o conhecimento científico é construído mais eficientemente por várias pessoas trabalhando  em comunicação umas com as outras do que com indivíduos trabalhando sozinhos, e, desta forma, fazendo surgir as sociedades científicas. Brandão e Duque (2011) argumentam que a colaboração entre cientistas ainda tem sido enriquecida de possibilidades devido o rompimento das barreiras de tempo e espaço nos processos de interação mediados pela tecnologia. Como a cooperação é elemento essencial no meu projeto, esta discussão serve para corroborar ainda mais a importância de se trabalhar sobre esta vertente de forma a contribuir com a sua aplicação para o desenvolvimento da competência informacional.

A comunicação científica, para Meadows (1999, apud VILAN FILHO,  2010, p. 24), encontra-se no coração da ciência constituindo-se parte essencial do processo de investigação científica, sendo tão vital quanto a própria pesquisa. Vilan Filho (2010) chama atenção para o fato de que a comunicação científica não tem acompanhado a evolução das tecnologias de comunicação (blogs, microblogs, redes sociais). Isto se torna mais evidente em áreas de fronteira do conhecimento onde a rapidez na disseminação de novas descobertas é necessária para atualização da base de conhecimento. A publicação científica por meios eletrônicos é determinante para se conseguir esta agilidade, apesar de que, Vilan Filho alerta que a validade destas só é aceita pela comunidade científica quando os trabalhos são avaliados pelos seus pares.   Ainda sobre a agilidade, Brandão e Duque (2011) também fazem indicações de que o ambiente digital tem estimulado a interatividade cada vez maior e em menor tempo, entre os produtores e os consumidores de informação.  Além disto, eles destacam que o saber científico devem seguir tendências contemporâneas, coetâneas e coesas. A comunicação científica depende da produção científica, e Gasque (2012) identifica, através da indicação de estudos realizados, três grandes problemas na  formação de pesquisadores desde o ensino fundamental até o ensino médio: (1) a inexistência de orientação para buscar e usar a informação, (2) formação inadequada dos professores para o ensino da pesquisa, (3) visão  simplista  da  pesquisa,  identificada  como  mera  cópia, síntese ou repasse de conteúdos, sem a reflexão crítica sobre a sua real importância na prática docente. Também na linha de identifica posturas e competências, Driver e outros (1994) sinalizam comportamentos necessários por parte dos alunos para a criação de uma perspectiva crítica sobre a cultura científica: eles deverão estar conscientes  da limitação e dos objetivos variados do conhecimento científico e de como suas asserções são baseadas. Neste contexto, o desenvolvimento das competências informacionais indicado no meu projeto, colabora com a produção científica de qualidade que consequentemente irá requerer uma comunicação científica sintonizada com a mesma qualidade.

De uma maneira geral a maturidade de uma área de conhecimento se mede por intermédio de 3 pilares a saber (MUELLER, CAMPELLO, DIAS, 1996 apud VILAN FILHO, 2010, p. 27): (1) literatura, (2) associações ou sociedade de pesquisa, (3) cursos regulares de formação profissional e de pesquisadores. Segundo Vilan Filho, alguns autores a cooperação como o quarto pilar de maturidade de uma área.  Meu projeto faz a intersecção no terceiro e quarto pilares, pois trabalha no desenvolvimento de competências informacionais na formação de profissionais da informação e, usando-se, da cooperação como elemento para alimentar o processo.

Diferentemente da alfabetização que corresponde ao processo de aquisição de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, o letramento, segundo Gasque (2012), refere-se ao domínio efetivo e competente da escrita no cotidiano para atingir diferentes objetivos.  Gasque ainda alerta que letramento informacional (originário de information literacy, termo cunhado por Paul Zurkowski em 1974) não é simplesmente a junção de letramento com informação, mas é um conceito complexo e abrangente que de uma maneira geral significa o engajamento do sujeito no processo de aprendizagem, a fim de desenvolver competências e habilidades necessárias para buscar e usar a informação de modo eficiente e eficaz. De forma mais detalhada, o letramento informacional tem como finalidade a adaptação e a socialização dos indivíduos na sociedade da aprendizagem, através das seguintes capacidades desenvolvidas: (1) determinar a extensão das informações necessárias;  (2) acessar a informação de forma efetiva e eficientemente; (3) avaliar criticamente a informação e suas fontes; (4)    incorporar a nova informação ao conhecimento prévio; (5) usar  a  informação  de  forma  efetiva  para  atingir  objetivos específicos; (6) compreender os aspectos econômico, legal e social do uso da informação, bem como acessá-la e usá-la ética e legalmente.  Outro conceito, identificado como alfabetização  informacional, que corresponde a primeira etapa do letramento informacional, refere-se  à  compreensão  básica  dos conceitos relacionados à informação e aos seus suportes tecnológicos, chamado de  ‘código de informação’.  O letramento informacional corresponde ao conceito de competência informacional discutido no meu projeto, onde o seu desenvolvimento é o foco principal da pesquisa.

Gasque (2012) alerta para uma grande deficiência do letramento informacional no Brasil, destacando que ele “[...] não tem sido foco da educação, em especial da educação básica. Somente na graduação, com a exigência dos trabalhos de conclusão de curso (TCCs), os aprendizes têm a possibilidade de desenvolver atitudes científicas, adquirindo, assim, as competências mínimas para produzir conhecimento científico”.  Gasque também aponta pesquisas que identificam dificuldades  no  processo  de pesquisa: “[...] acessar  adequadamente  as  informações  relevantes  e  pertinentes em fontes diversificadas; a falta de conhecimento sobre a ética na investigação, culminando com grande número de trabalhos plagiados, bem como as dificuldades em organizar e usar a informação para construir conhecimento. As pesquisas indicam a necessidade de educar os indivíduos para saber buscar e usar a informação de maneira efetiva”. No meu projeto de tese, faço a devida referência a autores que também alertam para deficiências encontradas no desenvolvimento da competência informacional de uma forma generalizada, entre eles: o INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS, LE COADIC, VARELA e BELUZZO.  Neste contexto apresentado, a deficiência identificada no letramento informacional constitui-se, no meu projeto de tese, a grande motivação e justificativa da pesquisa.

Gasque ainda destaca que há fortes evidências sobre a importância do letramento informacional, pois “[...] é crucial na sociedade atual, submetida a rápidas e profundas transformações em virtude da grande produção de conhecimentos científicos e tecnológicos”.  Ele é um processo de aprendizagem que favorece o aprender a aprender,  pois possui “[...] conceitos, procedimentos e atitudes que permitem ao indivíduo identificar a necessidade de informação e delimitá-la, buscar e selecionar informação em vários canais e fontes de informação, bem como estruturar e comunicar a informação, considerando os seus aspectos éticos, econômicos e sociais”.  Ser letrado informacionalmente é saber circular pelo mundo com familiaridade, buscar e selecionar informação para produzir conhecimento, ter capacidade de investigar problemas e propor soluções. Processo a ser desenvolvido desde a educação básica até a superior.  Gasque indica a existência de pesquisas realizadas no âmbito escolar que evidenciam os benefícios derivados do desenvolvimento do letramento informacional. Gomes (2008) alerta para o fato de que as competências e expectativas dos leitores interferem na interpretação dos textos, pois cada leitor carrega consigo conhecimentos prévios e lacunas que se misturarão às particularidades do contexto em que se efetua a leitura, ao texto e ao próprio formato de registro.  

Gasque (2012) conclui de sua pesquisa que as experiências e sentimentos com pesquisa ao longo da vida escolar, ou seja, da educação básica até a educação superior, tem influência direta no letramento informacional de um aluno da pós-graduação.  Este reflexo também é proveniente da “[...] cultura acadêmica, atitude dos professores em relação à busca e ao uso da informação, concepção de ensino-aprendizagem, infraestrutura e custos de informação, bem como pela consciência do grau de competência informacional do sujeito”. Além disto, ela assinala benefícios proporcionados por trabalhos de iniciação científica realizados na graduação, diferentemente das experiências superficiais proporcionadas pela educação básica.   Por outro lado, critica que as iniciações científicas são destinadas aos melhores alunos e não a todos, limitando a oportunidade de desenvolvimento das competências usadas no processo de pesquisa.  No contexto de minha pesquisa, a comunicação científica necessita de um grupo de competências informacionais, identificadas por Gasque (2012) em sua pesquisa, tais como: (a) competência de busca de informação, isto é, achar informação relevante e pertinente, (b) competência de uso da informação, por exemplo, lidar com questões ética e legais, (c) competência para organizar a informação, pois depois haverá necessidade de recuperá-la novamente de forma classificada com as suas anotações, fichamentos etc.

Miranda (2004) acha que a denominação de profissional da informação é algo genérico, pois possibilita todos os profissionais que atuam na Ciência da Informação sejam classificados como tal, inclusive jornalistas e repórteres.  Mas, ele conceitua dizendo que é o profissional que tem como objetivo o  acesso à informação ou a facilitação deste acesso. Faria (2005) lembra que não existe consenso em relação ao conceito de profissional da informação, mas resgata, em seu artigo, as ocupações da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) de 2003, que são consideradas como profissionais da informação. Além disto, da mesma CBO, ela também cita as competências exigidas/requeridas pelas organizações para o profissional da informação: (a) manter-se atualizado/disposição para mudanças, (b) trabalhar em equipe e em rede/afetividade; (c) possuir conhecimento de idiomas/comunicação; (d) ter postura ética/liderança; (e) capacidade empreendedora/realização; (f) raciocínio lógico/competências cognitivas; (g) capacidade de concentração/atenção-priorização; (h) demonstrar proatividade/antecipar ameaças. No contexto do meu projeto, o desenvolvimento da competência informacional por intermédio da cooperação e da lógica argumentativa já irá satisfazer duas das competências citadas pela CBO:  (b) competências no trabalho em equipe e em rede; e (f) competência no raciocínio lógico.

Segundo Akhras (2011) a inclusão social é um tema que tem sido negligenciado pela ciência tradicional, e é um problema multifacetado, multidisciplinar e complexo, isto é, as  tecnologias  sociais  não  podem  ser criadas  puramente  em  laboratórios,  mas “[...] devem  ser desenvolvidas por meio de projetos mais abrangentes e contextualizados, situados em contextos sociais reais que integram questões de avanço tecnológico com questões de desenvolvimento humano, social, econômico e cultural”.  Akhas conclui que existem cinco aspectos que coexistem em qualquer sistema de inclusão social: (a) o contexto social; (b) o estado de desenvolvimento social; (c) a atividade social; (d) o processo de inclusão social; (e) os affordances para inclusão social, isto é, as relações existentes entre o ambiente e o organismo. Meleane (2012), em sua tese, analisou até que ponto o uso de TICs constitui um meio de inclusão e exclusão social nas Instituições de Ensino Superior de Moçambique, e concluiu que há muito o que fazer aumentar a inclusão e diminuir a exclusão: “[...] desenvolver estratégias e planos consistentes; melhorar a qualidade de acesso e uso das TICs, a gestão de infraestruturas e os recursos tecnológicos existentes; promover a capacitação e o treinamento da comunidade acadêmica, como forma de aumentar a inclusão social e digital e reduzir a exclusão social e a desigualdade social e digital nas IES; e aumentar o desenvolvimento de pesquisas e de comunicação científica,  utilizando fontes eletrônicas”.  Este resultado, apesar do contexto em outro país, pode ser absorvido aqui para o Brasil no mínimo para suscitar reflexões acerca do tema. Na minha pesquisa, o trabalho com as competências informacionais já caminha na direção natural do aumento da inclusão social e da diminuição da exclusão social.

Ao longo deste post foram elencados nove pontos importantes que fazem intersecção com o meu projeto de tese, são eles: (1) o trabalho cooperativo, (2) a comunicação científica, (3) a maturidade de uma área de conhecimento, (4) o letramento informacional, (5) a deficiência do letramento informacional na sociedade, (6) a importância do letramento informacional, (7) o letramento informacional na educação superior, (8) o profissional da informação, (9) a inclusão social. Nas abordagens realizadas em cada um destes tópicos foi apresentada uma possível intersecção do meu projeto de pesquisa.  Sendo assim, o projeto se torna, desde então, mais amadurecido e embasado com os assuntos pertinentes da disciplina Fundamentos da Comunicação e Medicação da Informação.


Referências

AKHRAS, Fabio Nauras. A inclusão social como um projeto científico: uma ontologia. Inclusão Social. Brasília, v. 4, n. 2, p. 25-37, jan./jun. 2011.

BRANDAO, O. C.; DUQUE, C. G. Comunicação cientifica contemporânea e de vanguarda. In: _____. Ciência da Informação: estudos e práticas. Brasília: Thesaurus. 2011.  p. 9-33.

DRIVER, Rosalind et al. Constructing scientific knowledge in the classroom. Educational Researcher, American Educational Research Association, v.23, n.7, 1994, p. 5-12.

FARIA, Sueli. et al. Competências do profissional da informação: uma reflexão a partir da Classificação Brasileira de Ocupações. Ciência da Informação. v. 34, n. 2, p. 26-33, maio/ago. 2005.

GASQUE, Kelley C. G. D. Letramento informacional: pesquisa, reflexão e aprendizagem. Brasília: FCI/UnB, 2012.

GOMES, Henriete F. A mediação da informação, comunicação e educação na construção do conhecimento. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 9,  n. 1, fev. 2008.

MAGEE, Brian. História da filosofia. São Paulo: Edições Loyola, 1998.

MIRANDA, Silvânia Vieira. Identificando competências informacionais. Ciência da Informação, Brasília, v.33, n.2, ago., 2004.

MELEANE, Suzana O.T. Tecnologias de informação e comunicação como meio de inclusão social em Moçambique: o caso do ensino superior. 2012. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, Brasília.

VILAN FILHO, Jayme Leiro. Autoria Múltipla em Artigos de Periódicos  Científicos das Áreas de Informação no Brasil. 2010. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade de Brasília, Brasília, 2010.

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